Dá aula ou só brinca?
São inúmeras as vezes que um professor ouve esta frase, você mesma já deve ter ouvido ou quem sabe falado.
Isto porque culturalmente no nosso país e de certa forma, Infelizmente o brincar ainda não é compreendido como uma grande significativa forma de aprendizagem nas crianças, principalmente quando nós falamos na primeira infância.
De forma despretensiosa este artigo vem como uma forma de refletirmos e também espalhar o conhecimento, e é um dos meus grandes propósitos. Quem de nós não brincou na nossa infância de forma tão significativa que ainda temos na memória.
Não podemos dizer que não aprendemos por ter brincado na infância, me recordo da minha infância simples e humilde em tempos em que podíamos sair a rua logo ao entardecer e brincar com os amigos vizinhos. Tenho em minha memória uma rua sem asfalto, com terra batida, no bairro simples na cidade onde eu cresci e vivi a minha infância.
Trago até hoje lembranças de amigos daquela época, tenho na memória um morro muito alto e grande, tendo em vista o meu pequeno tamanho na época, em que nós subíamos, escalávamos, escorregávamos, brincávamos, mas não tenho memória de brincar na escola.
Assim como também não tenho memória de nenhum adulto brincar comigo. Amo maçã é uma fruta muito significativa para mim por dois momentos: primeiro no início do meu desejo em ser professora, quando certa vez a professora do meu irmão me acolheu em sua casa, dentro da escola, me deu a oportunidade de entrar na sala dos professores, naquela época aluno não tinha acesso, era mais rígido, era mais reservado. Daquele dia em diante eu tive certeza que eu queria ser professora, porque uma professora pode marcar a vida de uma criança de várias formas e eu vi que a forma positiva também era uma opção. Por que a maçã? Porque esta professora me levou para sua casa me cuidou, deu almoço e ainda entregou uma linda maçã, que eu tenho na memória para que eu levasse para escola e tomasse lanche da escola.
A outra memória é que eu me recordo, nesta mesma casa citada no início, no quintal tinha várias plantas onde eu brincava sozinha, muitas vezes sozinha, e nas minhas experiências, as minhas descobertas eu decidi que eu queria um pé de maçã. Retirei uma semente de uma maçã que havia comido, plantei e todos os dias eu cuidava de pé de maçã. Ele cresceu, não me lembro de ver as maçãs sendo produzidas, mas me recordo muito significamente de ter a experiência de plantar, de cuidar, de observar as transformações no meu pé de maçã e das demais plantas que tinha no quintal de casa, mas vamos ao ponto crucial.
O brincar não ensina?
O brincar não transforma, não desenvolve uma criança? Será que um professor está cometendo um erro gravíssimo quando, é através do brincar que ele dá os seus ensinamentos no ambiente escolar?
Ora Claro que não! Então vamos levantar a bandeira do brincar, do permanecer as crianças na primeira infância dentro do que é da sua natureza, brincar para criança é algo prazeroso e que é feito com muitas possibilidades de desenvolvimento e de aprendizagens.
Quanto mais uma criança brinca, mais conexões são formadas, mais experiências ela vive e armazena, amplia o seu repertório, expressa os seus sentimentos, aprende a se comunicar, descobre sobre si, testam seus limites desenvolve habilidades motoras e a autoconfiança. No livro Crianças Dinamarquesas observamos grande contribuição para nossa primeira infância, para brincar e quão é potente uma brincadeira livre, assim como uma brincadeira orientada e supervisionada por um adulto com intencionalidade pedagógica.
Se a escola do seu filho na primeira infância brinca, sinta-se feliz, estamos vivendo um tempo onde estamos perdendo muitas coisas valiosas da nossa infância, não podemos tratar as crianças com tão falta de respeito a suas necessidades essenciais e o brincar é uma delas. Criança brinca por impulso, por prazer, por querer. Através da brincadeira podemos ensinar e desenvolver nas crianças muitas habilidades, buscando a formação integral tanto almejada. Quando nos permitimos brincar com uma criança, permitindo também de fato realizar a empatia, muitas vezes a criança é colocada no mundo adulto ao brincarmos estamos nos colocando no mundo da Criança com o intuito de intencionalidade, muitas vezes de ensiná-la habilidades fundamentais para o seu crescimento e desenvolvimento. Vamos lembrar que a primeira infância é uma das etapas primordiais e que não podemos perder tempo esperando passar esta rica fase do desenvolvimento para que possamos assim, então, pensar em ensinar algo. Essas brincadeiras na prática ensina muito mais e melhor do que a teoria, então que pensamos sobre educação na primeira infância na forma natural e intuitiva da criança através das brincadeiras possibilitando que elas pesquisem, experimentem, vivenciam, sintam e utilizem todo seu potencial em desenvolvimento para aprender em todos os sentidos, porque a escola ensina e também cuida.
Todos os documentos trazem o Brincar como o essencial e fundamental a estrutura do ensino para as crianças na educação infantil. Como podemos então aceitar uma fala adulta questionando o ensino através das brincadeiras?
Deus me livre de uma escola em que sistematize o tempo todo, escolarize todas as atividades e tratem a primeira infância, as crianças da educação Infantil como um seres a parte da brincadeira e ao desenvolvimento.
A ludicidade tem que permear todas as atividades, todos os planejamentos e toda a intencionalidade pedagógica.
Como mudar essa cultura e ressaltar a importância do brincar inclusive no ambiente escolar?
Uma das formas é envolver as famílias no contexto escolar desde a educação infantil, não limitando de convidar essas famílias apenas em momentos de problemas, de reuniões para apresentarem relatórios, mas trazer essa interação para o fazer pedagógico, com participação de um dia de brincadeiras na escola, por exemplo.
O exemplo ensina mais do que a oratória, então desta forma quando os pais participarem, compreenderem a ação pedagógica e a garantia do brincar em prol o ensino e aprendizagem terão a dimensão dessa atividade, bem como sua valorização. Outro fator importante é saber diferenciar o brincar livre e intencional, infelizmente muitas famílias não realizam o brincar em casa com seus filhos que cada vez mais dão lugar as tecnologias, desta forma o brincar estará garantido na escola.
Certa vez recebi um aluno em que a família relatava e lamentava seu interesse apenas no celular, nas telas, mencionaram que o mesmo não brincava, não tinha interesse por brinquedos e brincadeiras ao ar livre, por exemplo.
Fui a campo experimentar isso no ensino com a criança e me deparei com uma criança saudável muito interessada, receptiva, ofertei aparelho e demais brinquedos após um tempo de interação e brincadeiras com ela utilizando jogos, brinquedos, etc.
Com certeza o resultado não foi o relatado naquela situação anterior, mesmo tenho o aparelho disponível ele ficou em segundo plano, como se não estivesse ali. Isso mesmo, a criança mostrou que faltava a interação, faltava a troca, faltava incentivo, faltava estímulos, faltava o humano.
Nossas crianças precisam de mais atenção e cuidados em vários sentidos, em vários aspectos. A primeira infância precisa ser entendida, valorizada e respeitada, estamos perdendo a mão? Estamos desaprendendo do brincar?
Brincar não é tempo perdido, não é apenas “brincar”.
Segundo Kihismoto ainda vivemos no Brasil o entendimento de que brincar é espontâneo e que não precisa fazer nada enquanto a criança brinca. É preciso romper paradigmas e entender que este conceito impede o desenvolvimento infantil. Cuidar e trabalhar a brincadeira como estratégia para ensino e aprendizagem torna potente o desenvolvimento infantil, para Vygotsky brincar tem que ser uma decisão livre pela criança, mas quando o adulto cria condições para ampliar dando suporte a essa brincadeira, a criança entra em um outro nível de desenvolvimento.
Para finalizar não podemos deixar de mencionar a importância de garantir o brincar, ainda como direito ás crianças e este deve ser garantido a todas as crianças, conforme pressuposto dos documentos normativos da educação brasileira entre eles, DCNEi e BNCC o foco das ações pedagógicas são as interações e brincadeiras.
Referencias Bibliográficas
KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O brincar e suas teorias. BostonCengage Learning, 2019.
SANDAHL, Iben Dissing. Crianças Dinamarquesas. Rio de Janeiro: Fontanar, 2017.
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